O impacto do diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) vai muito além da dimensão clínica. Para muitas famílias, representa o início de uma jornada permeada por incertezas, ajustes emocionais e reestruturação de expectativas. Nesse contexto, o papel dos profissionais da saúde ultrapassa o diagnóstico e o encaminhamento terapêutico — ele passa a ser também o de um facilitador de acolhimento, informação e suporte emocional.
Compreendendo o abalo emocional do diagnóstico
Ao receber o diagnóstico de TEA, muitas famílias experienciam sentimentos como negação, medo, culpa, frustração e isolamento. Esse impacto não se restringe aos pais, mas pode afetar irmãos, avós e demais cuidadores. O diagnóstico frequentemente traz uma ruptura com a imagem idealizada da criança e levanta dúvidas sobre o futuro. A forma como o profissional se posiciona nesse momento pode influenciar diretamente o nível de sofrimento ou resiliência da família.
A importância da escuta ativa e empática
Estar diante de uma família em crise emocional exige mais do que conhecimento técnico: exige presença, empatia e escuta qualificada. A escuta ativa, sem interrupções ou julgamentos, permite que o sofrimento seja expresso e validado. O profissional não precisa oferecer soluções imediatas, mas deve garantir um espaço de confiança onde sentimentos possam emergir sem censura.
Comunicação sensível e compreensível
A forma como o diagnóstico é comunicado tem impactos duradouros. Linguagens excessivamente técnicas ou impessoais podem alienar e assustar. Por outro lado, uma comunicação clara, adaptada ao nível de compreensão da família, com tempo para dúvidas e acolhimento das reações, transforma o momento do diagnóstico em um ponto de virada construtivo.
Fornecimento de informações e redes de suporte
Um dos maiores fatores de sobrecarga emocional em famílias de pessoas com TEA é a sensação de solidão diante de um sistema de saúde fragmentado. Cabe ao profissional mapear e compartilhar informações sobre redes de apoio locais (CAPSij, unidades básicas, grupos comunitários, associações especializadas), garantindo que a família tenha referências para além do consultório.
Evitar o capacitismo e respeitar a diversidade familiar
O cuidado emocional também exige a desconstrução de preconceitos e estigmas. Profissionais devem evitar falas ou condutas capacitistas, e compreender que cada família tem uma forma própria de reagir e se adaptar. Isso inclui respeitar diferentes composições familiares, dinâmicas culturais e níveis de acesso à informação.
Reflexão para a prática
Em um sistema de saúde muitas vezes sobrecarregado e voltado ao modelo biomédico, escolher oferecer acolhimento emocional às famílias é um gesto profundamente transformador. Que tipo de profissional você deseja ser? Aquele que apenas cumpre protocolos, ou aquele que se compromete com uma atuação humana, ética e realmente transformadora?
Aprofunde-se. Leia, ouça, estude. A compreensão do TEA e da vivência familiar é um campo em constante evolução, e seu compromisso com a escuta e o cuidado pode ser a diferença entre uma família desamparada e uma família fortalecida.
Você está disposto a ser essa ponte?