A importância da parceria entre saúde e educação
A inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um direito garantido por lei, mas também um processo contínuo que exige planejamento, sensibilidade e articulação entre diferentes setores. Não basta estar na escola — é preciso participar, interagir, aprender e se desenvolver em um ambiente que reconheça e respeite as necessidades individuais.
Nesse cenário, a atuação de profissionais da saúde — como psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos e fisioterapeutas — é estratégica. Esses profissionais têm conhecimento técnico sobre desenvolvimento, comportamento, linguagem e habilidades adaptativas, que podem enriquecer muito a prática pedagógica e promover intervenções mais eficazes.
O que os profissionais podem (e devem) fazer
A contribuição dos profissionais da saúde vai muito além da clínica. Eles podem elaborar relatórios funcionais claros e objetivos, sugerir adaptações curriculares, orientar professores sobre estratégias sensoriais e de manejo comportamental, além de participar de reuniões pedagógicas e interdisciplinares.
Por exemplo, um terapeuta ocupacional pode ajudar a equipe escolar a organizar o ambiente físico para reduzir estímulos sensoriais excessivos, enquanto um fonoaudiólogo pode sugerir o uso de sistemas de comunicação alternativa para promover a participação nas atividades escolares. Psicólogos podem colaborar com a mediação de conflitos, o fortalecimento da autoestima e o manejo de crises emocionais.
Além disso, a orientação à família sobre seus direitos, possibilidades de diálogo com a escola e como apoiar o processo de inclusão em casa também faz parte de uma atuação ampliada e ética.
Comunicação é chave
Um dos maiores desafios é a comunicação entre os setores da saúde e da educação. Muitas vezes, as escolas sentem-se inseguras diante do diagnóstico de TEA, e os profissionais da saúde, por sua vez, não sabem como se aproximar da realidade escolar. Criar canais abertos de diálogo, com linguagem acessível e respeitosa, é o primeiro passo para construir uma rede de apoio eficiente.
É importante que os relatórios clínicos sejam objetivos, baseados em avaliações funcionais, e contenham sugestões práticas que façam sentido no ambiente escolar. O foco deve ser sempre na funcionalidade, e não apenas no diagnóstico.
Educação inclusiva se faz em rede
O sucesso da inclusão escolar depende de uma rede de apoio articulada. Essa rede envolve não apenas o profissional de saúde e a escola, mas também a família, a gestão escolar, os colegas de classe e, sempre que possível, o próprio estudante, que deve ser ouvido e respeitado em suas necessidades e preferências.
Promover a inclusão não é atribuição de um único profissional, mas um compromisso coletivo com o desenvolvimento humano e com a justiça social.
Conclusão
Colaborar com a escola é ampliar o alcance da intervenção clínica e contribuir para que a inclusão de crianças com TEA seja vivida com dignidade, respeito e intencionalidade. Quando profissionais da saúde assumem um papel ativo no ambiente escolar — seja oferecendo orientações práticas, participando de reuniões pedagógicas ou adaptando suas intervenções às demandas educacionais — eles não apenas favorecem o desenvolvimento da criança, mas também fortalecem vínculos entre os diferentes atores da rede de apoio.
É preciso lembrar que a inclusão não é responsabilidade exclusiva da escola, nem da saúde. Trata-se de uma construção coletiva que exige empatia, escuta e colaboração. Ao se colocar como parceiro da equipe pedagógica e da família, o profissional da saúde amplia sua atuação para além da clínica, tornando-se agente ativo na transformação de contextos sociais e educacionais.
Mais do que adaptar atividades escolares, trata-se de transformar ambientes e relações para que todas as crianças tenham oportunidades reais de participar, aprender e se desenvolver. Esse olhar ampliado — que integra saúde, educação e direitos humanos — é essencial para a construção de práticas verdadeiramente inclusivas.