Dificuldades no Diagnóstico Precoce do Autismo: O Que os Profissionais da Saúde Precisam Saber

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o diagnóstico de TEA no Brasil ainda ocorre, em média, entre 4 e 5 anos de idade — muito além da janela ideal para início das intervenções. Em muitos países, é possível obter um diagnóstico confiável já aos 18-24 meses. Essa defasagem prejudica o desenvolvimento e sobrecarrega os sistemas de saúde.

As principais barreiras no Brasil

  1. Falta de formação específica em TEA para profissionais da atenção primária, sobretudo pediatras e médicos da família;
  2. Ausência de protocolos de rastreio padronizados, como o M-CHAT, em consultas de puericultura;
  3. Demora no acesso a especialistas, causada por filas e limitações de rede credenciada;
  4. Estigma social e resistência familiar, que muitas vezes atrasa a busca por avaliação formal.

O que os profissionais precisam observar?

O reconhecimento dos sinais precoces do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um passo decisivo para garantir que crianças em risco recebam o suporte adequado o mais cedo possível. Embora os sintomas do autismo variem em intensidade e apresentação, existem padrões de desenvolvimento que, quando observados com atenção, podem indicar a necessidade de investigação mais aprofundada — ainda nos primeiros 12 a 24 meses de vida.

Sinais de alerta no primeiro ano de vida

Entre os marcos que merecem atenção especial por parte de pediatras, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais da atenção primária, destacam-se:

  • Pouco contato visual ou social: o bebê evita olhar nos olhos dos pais ou não sorri socialmente quando interagido;
  • Ausência de balbucio, gestos ou apontar aos 12 meses: falta de comunicação intencional, como acenar, estender os braços para ser pego ou apontar para objetos de interesse;
  • Falta de reciprocidade nas interações: a criança parece “alheia” a vozes, carinhos ou tentativas de engajamento social;
  • Comportamentos sensoriais atípicos ou movimentos repetitivos, como balançar as mãos, girar objetos ou fixar-se por longos períodos em partes específicas de brinquedos;
  • Atraso ou regressão da fala e linguagem, especialmente quando há perda de palavras previamente adquiridas ou estagnação súbita no desenvolvimento.

Instrumentos clínicos para rastreio de diagnóstico de autismo

Embora a observação clínica seja indispensável, o uso de instrumentos padronizados de triagem e avaliação aumenta a acurácia e consistência do processo diagnóstico. Alguns dos mais utilizados incluem:

  • M-CHAT-R/F: checklist de triagem para crianças entre 16 e 30 meses, de fácil aplicação e alta sensibilidade;
  • CARS (Childhood Autism Rating Scale): escala de avaliação comportamental útil em ambientes clínicos e escolares;
  • ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule): instrumento semiestruturado de observação direta considerado padrão-ouro na avaliação diagnóstica.

A aplicação dessas ferramentas, combinada a entrevistas com os pais e histórico de desenvolvimento, permite uma avaliação mais robusta e orientada para o encaminhamento precoce às intervenções adequadas.

O papel dos gestores e operadoras

A identificação precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é responsabilidade exclusiva dos profissionais da linha de frente — é, também, um reflexo direto das decisões estratégicas de gestores e operadoras de saúde suplementar. Esses agentes têm um papel crucial na estruturação de modelos assistenciais que favoreçam o rastreio, o diagnóstico e o encaminhamento ágil para intervenções qualificadas. A saúde suplementar pode avançar significativamente ao:

  • Estimular a capacitação de pediatras e equipes de atenção primária;
  • Incorporar protocolos de rastreio ao atendimento padrão de puericultura;

O diagnóstico precoce do TEA é mais do que uma decisão técnica — é uma janela de oportunidade que pode mudar o curso de toda uma vida. Enquanto o sistema falha em reconhecer os primeiros sinais, o tempo passa, e com ele, perde-se a chance de promover avanços significativos no desenvolvimento da criança. Profissionais atentos e capacitados podem ser a ponte entre o desconhecimento e a intervenção. E mais: gestores que valorizam o rastreio precoce e criam fluxos ágeis são verdadeiros agentes de equidade. O futuro do cuidado começa no hoje — e começa com o olhar clínico informado.

Compartilhe!