A atenção ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) tornou-se, nos últimos anos, um dos temas centrais no debate sobre a sustentabilidade da saúde suplementar no Brasil. O crescimento expressivo no número de diagnósticos — resultado do maior acesso à informação, da melhoria na formação profissional e do avanço dos critérios diagnósticos — trouxe à tona um novo cenário: uma demanda crescente por intervenções terapêuticas intensivas, personalizadas e de longo prazo.
Esse aumento, embora positivo por representar maior inclusão e acesso, tem desafiado as operadoras de saúde a encontrar soluções sustentáveis que não comprometam a qualidade do cuidado prestado às pessoas com TEA e suas famílias.
Onde se concentram os principais custos?
De acordo com levantamentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), os gastos relacionados ao cuidado com o TEA envolvem múltiplos componentes, tanto diretos quanto indiretos:
- Tratamentos multidisciplinares contínuos, com abordagens como Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Psicologia, geralmente com frequência semanal elevada;
- Avaliações diagnósticas e reavaliações periódicas, exigidas por protocolos clínicos, peritos e demandas judiciais;
- Judicializações crescentes, motivadas por negativas de cobertura, limitações de sessões ou incongruências entre o plano terapêutico e a política assistencial da operadora;
- Despesas indiretas, como transporte familiar, absenteísmo dos cuidadores, aquisição de materiais terapêuticos e suporte educacional paralelo.
Esse cenário exige que gestores da saúde suplementar pensem estrategicamente sobre como estruturar modelos de cuidado que sejam ao mesmo tempo tecnicamente consistentes e financeiramente viáveis.
Eficiência baseada em qualidade: o caminho sustentável
Reduzir custos de forma linear — por exemplo, limitando o número de sessões indiscriminadamente — pode parecer, à primeira vista, uma estratégia viável. Contudo, esse tipo de abordagem tem se mostrado ineficiente, contraproducente e de alto risco jurídico, além de potencialmente comprometer os resultados clínicos dos pacientes.
Em vez disso, as boas práticas de gestão recomendam a adoção de uma lógica de eficiência assistencial orientada por valor, onde o foco está nos resultados alcançados, e não apenas nos serviços prestados.
Algumas estratégias incluem:
- Implementação de protocolos clínicos baseados em evidência, que orientem a frequência, a duração e os objetivos das terapias de forma padronizada e rastreável;
- Utilização de indicadores de desfecho clínico, como evolução de habilidades adaptativas, melhora da comunicação funcional e aumento da autonomia da criança;
- Modelos de remuneração que valorizem o desempenho e os resultados terapêuticos, em detrimento do tradicional modelo fee-for-service (pagamento por sessão).
Essa abordagem favorece o cuidado contínuo, eficiente e centrado na pessoa, ao mesmo tempo em que traz previsibilidade e racionalidade à alocação de recursos por parte das operadoras.
A tecnologia como aliada estratégica
Ferramentas digitais têm ganhado protagonismo como instrumentos de governança clínica e suporte à decisão. A plataforma NeuroSteps é um exemplo que tem sido adotado por clínicas e operadoras que buscam integrar cuidado, mensuração de resultados e gestão de dados.
Entre seus principais diferenciais, destacam-se:
- Monitoramento contínuo de indicadores de progresso clínico, com gráficos interativos que facilitam a análise longitudinal do paciente;
- Elaboração de relatórios personalizados e automatizados, úteis para auditorias, laudos, pareceres e acompanhamento terapêutico;
- Integração entre profissionais da equipe multidisciplinar, com registros assistenciais unificados e acessíveis;
- Tomada de decisão baseada em dados reais, reduzindo a subjetividade e aumentando a transparência entre prestadores, operadoras e famílias.
Além de aumentar a eficiência clínica, plataformas como essa contribuem para uma governança mais inteligente e centrada em valor, ao mesmo tempo em que fortalecem a relação entre as partes envolvidas no cuidado.
Considerações importantes
A gestão de custos no cuidado ao TEA não deve ser orientada pela lógica da contenção, mas sim pela inteligência assistencial. A verdadeira sustentabilidade nasce da capacidade de oferecer cuidado de qualidade, baseado em evidência, mensurado por resultados clínicos reais e apoiado em processos integrados.
Gestores e operadoras que assumem esse compromisso não apenas preservam a saúde financeira de seus sistemas, mas também garantem dignidade, continuidade e eficácia no cuidado de pessoas que dependem da intervenção precoce e qualificada para seu desenvolvimento pleno.
Mais do que uma escolha estratégica, trata-se de um posicionamento ético: cuidar com eficiência é cuidar com responsabilidade. E essa responsabilidade começa no desenho do modelo assistencial — hoje.