O discurso sobre a importância da interdisciplinaridade no cuidado a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é amplamente aceito, mas sua aplicação na prática ainda encontra diversos obstáculos. Profissionais atuando de forma isolada, falta de comunicação entre áreas, sobreposição de funções, divergência de objetivos e até disputas de abordagem são situações comuns que dificultam a construção de planos terapêuticos coesos e centrados na criança.
Muitas vezes, cada profissional atua com boas intenções, mas sem dialogar com os demais, o que gera redundância de estratégias, objetivos conflitantes ou ausência de integração entre os contextos terapêuticos, familiares e escolares.
Diferente do modelo multidisciplinar, em que cada profissional atua em sua especialidade de forma paralela, a abordagem interdisciplinar pressupõe diálogo constante, troca de saberes, definição conjunta de metas e ações articuladas em prol de um plano terapêutico comum. Nessa perspectiva, o centro do cuidado não é a técnica, mas sim a pessoa — com sua singularidade, contexto e necessidades funcionais.
É uma prática que exige escuta ativa, humildade profissional, clareza de papéis e abertura para co-construir intervenções integradas, respeitando os diferentes saberes e ampliando a visão sobre o processo terapêutico.
Para que a interdisciplinaridade seja uma realidade e não apenas um ideal, algumas ações são fundamentais:
A interdisciplinaridade bem aplicada favorece o desenvolvimento global da criança, evita desgastes para a família, otimiza recursos e promove maior eficácia nas intervenções. Além disso, fortalece o vínculo entre os profissionais, promove aprendizado contínuo e previne o esgotamento de quem atua em contextos complexos.
É preciso lembrar que nenhuma área tem todas as respostas. O cuidado com o TEA demanda múltiplos olhares, e é justamente na intersecção entre eles que surgem as intervenções mais criativas, eficazes e humanizadas.
Atuar de forma verdadeiramente interdisciplinar é um compromisso ético com a qualidade do cuidado. Não se trata de abrir mão do seu saber, mas de integrá-lo a outros — ampliando perspectivas, fortalecendo vínculos profissionais e colocando a pessoa com TEA no centro do processo terapêutico.
Profissionais que dialogam, planejam juntos e respeitam os limites e potências de cada área constroem caminhos mais consistentes, coerentes e significativos. Mais do que compartilhar um espaço de trabalho, é sobre construir uma rede de cuidado viva, flexível e conectada com a realidade de quem precisa.
Interdisciplinaridade não é sobre fazer tudo — é sobre fazer junto. E juntos, vamos mais longe no cuidado com qualidade, escuta e respeito.