Responsabilidade técnica e ética no uso de intervenções para o TEA: como se manter atualizado e alinhado à ciência

Nem toda prática é boa prática

O crescimento expressivo no número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos últimos anos trouxe consigo uma maior visibilidade para o tema — o que é extremamente positivo. No entanto, essa expansão também abriu espaço para a proliferação de métodos, terapias e “tratamentos alternativos” que nem sempre possuem respaldo científico.

Intervenções que prometem “cura”, abordagens milagrosas, métodos caros com resultados duvidosos e técnicas baseadas em modismos preocupam profissionais comprometidos com a ética e a qualidade do cuidado. Em muitos casos, a falta de evidência pode levar à perda de tempo terapêutico, à frustração das famílias e até a riscos diretos à saúde da criança.

Por isso, cabe aos profissionais da saúde assumir uma postura crítica e responsável diante de qualquer técnica que adotem, sempre buscando alinhamento com práticas reconhecidas pela ciência.

O que são práticas baseadas em evidências?

Práticas baseadas em evidências são aquelas fundamentadas em três pilares principais:

  1. Melhores evidências científicas disponíveis, provenientes de estudos controlados, revisões sistemáticas e diretrizes clínicas reconhecidas;
  2. Experiência clínica do profissional, que permite adaptar o conhecimento à realidade prática;
  3. Valores, preferências e contexto do paciente e de sua família, respeitando sua cultura, realidade social e escolhas.

O equilíbrio entre esses três elementos garante que a intervenção seja segura, eficaz e respeitosa. Isso significa que não basta ter evidência — é preciso saber aplicar, avaliar e adaptar.

Fontes confiáveis e critérios de escolha

Diante da quantidade de informações disponíveis, é essencial que os profissionais saibam onde buscar atualização de qualidade. Algumas fontes confiáveis incluem:

  • Diretrizes de associações científicas reconhecidas (ex: American Psychological Association, BACB, OMS, CFFa, COFFITO, CFP);
  • Periódicos indexados e revisados por pares (PubMed, Scielo, Cochrane Library);
  • Revisões sistemáticas e meta-análises;
  • Cursos e formações ministrados por profissionais qualificados e com base na literatura internacional;
  • Eventos científicos de entidades sérias e independentes.

Além disso, desconfie de conteúdos com promessas de resultados rápidos, linguagem sensacionalista ou marketing excessivo. Transparência, rigor metodológico e contextualização são indícios de que você está diante de uma boa fonte.

Atualização contínua é compromisso ético

Manter-se atualizado não é apenas uma escolha — é um dever ético e técnico de qualquer profissional da saúde. As diretrizes mudam, novos estudos são publicados, práticas se consolidam ou são revistas com o tempo.

A postura de aprendizagem contínua é o que diferencia o profissional que apenas repete técnicas daquele que realmente cuida com consciência crítica. E isso também envolve saber reconhecer quando uma prática que usamos precisa ser ajustada ou até abandonada.

O cuidado com o TEA é complexo, e nenhuma abordagem isolada responde a todas as demandas. Quanto mais amplo for o repertório teórico-prático do profissional, maiores são as chances de oferecer intervenções eficazes e sensíveis à realidade de cada indivíduo.

Conclusão

Adotar práticas baseadas em evidências é um ato de respeito: respeito à criança, à família, à profissão e à ciência. É também uma forma de proteger as pessoas de intervenções ineficazes ou potencialmente danosas, promovendo um cuidado mais justo, qualificado e humanizado.

Profissionais éticos não apenas aplicam técnicas — eles tomam decisões fundamentadas, refletem sobre suas condutas, questionam discursos prontos e mantêm vivo o compromisso com o que há de melhor no campo da saúde e da educação.

Cuidar com ciência é cuidar com responsabilidade. E um profissional atualizado é aquele que compreende que o saber não se encerra, mas se renova a cada encontro, a cada estudo, a cada escolha.

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